Este texto foi escrito pelo Biólogo Joaquim Teixeira e nos leva a uma reflexão sobre a construção da Usina de Belo Monte
Muito
tem se falado a respeito de Belo Monte, como sendo a perdição nacional por movimentos
ambientalistas ou como um grande empreendimento digno de um país em crescimento
como o Brasil. Vi algumas coisas a respeito de que os índios não veriam a usina
como algo negativo, mas até desejariam e alguns comentários até um pouco superficiais
falando que não haveria outra opção: ou construímos a usina ou entramos em
apagão. Bom, vamos esclarecer os pontos.
Realmente
existem populações que serão muito prejudicadas diferente do que já vi em alguns
vídeos. [1,2] A questão indígena é muito cruel no Brasil ainda hoje como, por exemplo,
a dos índios guarani kaiowa. Hidrelétricas no eixo centro-sul, como a grande Itaipu
pagam royalties a municípios afetados, o que parece não ser cogitado para os índios
queixosos.
Os
custos de uma hidrelétrica não são nenhum pouco baratos, Itaipu custou 14
bilhões de dólares na época [3]. Como ainda não foi construída há valores que
vão de US$ 3,7 bilhões [4] a R$ 31,2 bilhões de reais que transformando em
dólar dá uns US$ 15 bilhões [5]. Os custos da energia eólica são de uns 3 mil
ou 4 mil reais por KW ou R$ 3,3 milhões por MW [6],o que dá uns R$ 4 bilhões
por GW ou R$18 bilhões em um substituto
a uma belo monte de 4500 MW ou 4,5 GW. Um fato interessante e que poderia ser
explorado é o custo de nossa energia eólica:
Muitos
países vêm se adequando a essa "onda verde" boa parte deles do 1º
mundo [7]. A Alemanha é um ótimo exemplo disso com 25% de energia eólica [8].
Claro tem momentos que eles precisam comprar energia em estações sem vento, por
outro lado eles também vendem em estações com muito vento a energia excedente.
Temos um potencial bom de ventos, não
tão bom quanto de alguns países, mas ainda sim explorável.
Os
impactos são mínimos: poluição visual e o barulho gerado. Mas nunca um parque eólico
fica muito próximo de cidades e se perto de uma floresta é bem melhor só interferir
no comportamento dos animais da região do que destruir tudo. Sem contar que uma
torre eólica pode ser desmontada sem muitos custos para ser remontada em outro lugar.
Um
país tropical como o nosso também poderia explorar o sol como fazem outros países
diga-se não tão abençoados pelo sol, como os EUA [9]. Pode sim ser uma fonte cara,
mas o caro é apenas por não haver investimento em uma única área: pesquisa científica.
Temos uma tradição em construção de Hidrelétricas,
mas por que não mudar e investir em algo diferente? Explorar o sol de regiões
como o Nordeste poderia ser uma oportunidade e até uma fonte de desenvolvimento
para a região, partindo do preceito de sustentabilidade: socialmente justo, economicamente viável,
culturalmente aceito e ecologicamente
correto. Em um caso desses só precisaríamos reduzir os custos criando a
tecnologia. Pode ser difícil, mas o Brasil é, por exemplo, pioneiro em extração
de petróleo marinho pois viu suas ricas reservas e investiu na área por que não
fazer o mesmo com a energia solar?
Hidrelétricas
possuem muitos impactos tão ou até mais danosos que uma termoelétrica como, por
exemplo, a liberação de gás carbônico vindo da decomposição de árvores o que
agrava o efeito estufa. Ou seja, uma hidrelétrica pode gerar gás carbônico o
que não é muito comentado. Em áreas menores é apenas aberta uma concessão para
exploração de árvores já que elas vão morrer mesmo. Mas em alagadouros maiores,
fica impossível desmatar toda a área, o que gera as emissões de gás carbônico.
Outro efeito do gás carbônico é o aumento da acidez na água o que é muito danoso
para peixes e plantas aquáticas, o que pode levar a eutrofização da água de um
alagadouro e a morte de peixes em áreas que recebem a água pós-turbina, outro
ponto pouco pensado.
E
mais importante, uma hidrelétrica possui "prazo de validade", pois
com o
assoreamento,
causado pelos sedimentos carregados pelo rio e depositados na área alagada, ela
será entupida rapidamente. Uma Itaipu da vida tem uns 200 ou 300 anos de duração,
já uma Belo Monte pode ter uma vida útil de apenas 50 anos [10]. Destruir uma
área como a de Belo Monte, mudar de lugar centenas de pessoas, impactar a água
a dezenas ou até a centena de quilômetros de distância não vale o investimento
e o tempo de vida tão pequeno. Uma criança de 10 anos no dia da inauguração
estará viva com
certeza
para ver os efeitos da usina quando ainda estiver trabalhando. E esses
sedimentos
não podem ser retirados, pois custaria umas 3 ou 4 belo montes para fazê-lo.
Sem
contar o impacto no padrão de reprodução de peixes que são importantes para o ecossistema
como para pessoas que os pescam. Esses ribeirinhos seriam impedidos de pescar
em certas épocas do ano (no período de reprodução) para compensar o impacto tendo
que receber ajuda do estado o que seriam mais despesas.
A
construção de uma usina como Belo Monte realmente causará mais prejuízos do que
lucros. Obviamente não podemos ficar sem energia, mas será que tem sido
investido em fontes alternativas de energia como deveria ou poderiam ser
encontradas alternativas menos danosas?
Extras:
Referências:
[4]
http://www.socioambiental.org/esp/bm/inv.asp